Ana Machete, Presidente da nossa Universidade, foi convidada a participar tendo apresentado a seguinte comunicação
A APRENDIZAGEM NOS ADULTOS – uma abordagem andragógica
Apresentação
Agradeço
à Drª Eduarda Caridade da Uniseti o
convite para participar na 19ª
Conferência Nacional de Formadores.
A Universidade Sénior de
Azeitão completou em Março o seu 4º ano de funcionamento.
Na sua génese esteve o
conhecimento da importância que têm as actividades ocupacionais na
valorização dos seniores e dos seus saberes conhecimentos e
experiências, proporcionando-lhes uma forma de encararem a situação
de reforma de maneira pró-activa, e o processo de envelhecimento
como mais uma etapa da vida e não como o seu último patamar.
A nossa acção tem passado
por iniciativas que promovem e valorizam os saberes e competências
dos alunos, pela oferta de oportunidades de descoberta e de aquisição
de conhecimentos diversificados e pela promoção do convívio e de
novos relacionamentos sociais.
Queremos
também ter um papel de consciencialização da sociedade face ao
processo de envelhecimento e é
com satisfação que vemos a USAZ progressivamente reconhecida pelas
entidades públicas e privadas do concelho, com quem vamos
estabelecendo parcerias, e pela comunidade em geral, que nela
concretiza a oportunidade efectiva de participar na educação para a
cidadania, para a saúde, para a valorização humana e para a
formação ao longo da vida.
É
nesta linha de reconhecimento e aceitação por parte da comunidade
em que se insere, que ambicionamos continuar a manter esta resposta
social e formativa, proporcionando a todos aqueles que desejem fazer
parte desta “comunidade universitária” a possibilidade de se
sentirem cada vez mais activos, saudáveis, criativos, informados,
valorizados, úteis e felizes.
Desde que
iniciou a sua atividade a USAZ tem vindo a crescer no número de
alunos, de professores, de disciplinas e de polos onde as nossas
atividades decorrem.
Depois
desta breve apresentação, vamos falar do tema que aqui me traz hoje
e sobre o qual se põem duas perguntas pertinentes:
A
1ª - Porque é que os seniores frequentam as UTI’s
A
2ª - Como aprendem os alunos das UTI’s
Abordando
1ª pergunta:
A
partir de meados do século XX assistimos a mudanças profundas
decorrentes da inovação científica e tecnológica, da globalização
e das transformações demográficas, entre as quais se inclui o
aumento da esperança de vida.
Na
sequência da evolução tecnológica e do aumento da esperança de
vida, com a qualidade que hoje lhe conhecemos, surgiram novas
necessidades relacionadas com a aprendizagem ao longo da vida.
Se
perguntarmos o que leva um número cada vez maior de pessoas que já
finalizaram a atividade de várias décadas dedicadas ao mundo
laboral a querer aprender e a regressar à “escola”, verificamos
que as
universidades seniores são agentes facilitadores da
auto-valorização, proporcionam momentos de aprendizagem, através
do lazer e do prazer proveniente dessa mesma aprendizagem, e
despertam nos seniores o sentido de utilidade, desenvolvendo-lhes a
capacidade crítica, a liberdade e a possibilidade de se exprimirem
e a
oportunidade de se dedicarem àquilo que mais apreciam, acedendo
a novos conhecimentos e a
matérias
inovadoras que vêm preencher lacunas na sua formação anterior.
Para além da ocupação do
tempo sobrante, estabelecem-se novas redes de amizades e acede-se a
novas percepções da realidade. A perda das ligações com os
ex-colegas de trabalho, nalguns casos com o companheiro de toda a
vida e até com os filhos, que na maioria dos casos já deixaram a
casa dos pais, potencia a criação de uma «outra família», que
agora cada um tem a possibilidade de escolher livremente.
Desta forma, o convívio e
as relações informais de amizade estabelecidos nesses espaços,
desempenham um papel relevante nesta etapa específica da vida,
acrescentando-lhe novos sentidos, alegrias e a sensação de estar
«vivo», de aproveitar a vida e de a encarar de maneira positiva,
permite afastar os alunos do isolamento e da solidão, integrando-os
positivamente na sociedade.
As universidades seniores
assumem um papel importante no combate contra a desvalorização
social daqueles cuja idade é mais avançada, mas que podem alcançar
o sucesso, mantendo uma perspetiva positiva do envelhecimento,
através do estabelecimento de planos para o futuro.
Retomemos
a 2ª pergunta: - como apendem os alunos das UTI’s?
O
adulto é o sujeito da educação e não o objeto da mesma.
A
experiência
de vida dos adultos é
uma fonte para a aprendizagem
o que os distingue das crianças e dos jovens.
Tratando-se de uma população com
características diferentes, o modelo de ensino terá também que ser
diferente do modelo pedagógico, que tal como o nome indica se
destina à educação e à formação de crianças e jovens, ou seja,
os métodos utilizados no ensino dos mais jovens e os conteúdos que
por norma se ensinam nas escolas onde se pratica o ensino formal, não
são os mais adequados a uma população adulta.
Na
aprendizagem dos adultos fala-se então do modelo andragógico
Andragogia
é a ciência que tem como
objecto o estudo do processo de aprendizagem de adultos e das
melhores práticas para os orientar a aprender
considerando os seus aspectos psicológico, biológico e social.
O
modelo andragógico baseia-se nos seguintes princípios:
1º
princípio - Necessidade de saber:
De uma forma geral, os
adultos estão dispostos a iniciar um processo de aprendizagem, desde
que compreendam a sua utilidade para melhorar a resolução dos
problemas reais e das tarefas com que se confrontam na sua vida
quotidiana. (o que desaconselha claramente uma lógica centrada em
conteúdos);
2º
princípio - Conceito de si:
Os adultos são conscientes e responsáveis pelas suas decisões e
pela sua vida, portanto é necessário que sejam vistos e tratados
pelos outros como indivíduos capazes de se autogerirem e não como
crianças.
3º
princípio - Papel da experiência:
Para os adultos as suas experiências de vida facilitam e são a base
da aprendizagem. Na fase
adulta somos capazes de criticar e analisar as situações e de
estabelecer paralelos com as experiências já vividas, aceitando ou
não as informações que nos chegam.
As
diferenças individuais entre pessoas cresce com a idade, por isso, a
educação de adultos deve considerar as diferenças de estilo,
tempo, lugar e ritmo de aprendizagem.
As
técnicas que aproveitam os saberes e ao mesmo tempo as diferenças
individuais serão as mais
eficazes, tanto mais que muitas vezes os aprendentes partilham
voluntariamente entre eles o que sabem.
4º
princípio - Vontade de aprender:
os adultos ficam dispostos a aprender quando a ocasião exige algum
tipo de aprendizagem relacionado com situações reais e com a
resolução de problemas do dia a dia. ou por oposição quando se
trata de matérias completamente inovadoras que vêm preencher uma
lacuna na sua formação anterior.
5º
princípio - Orientação da aprendizagem:
Os adultos trazem uma
bagagem de experiências que podem contribuir para sua própria
aprendizagem e
aprendem melhor quando os conceitos apresentados estão
contextualizados para alguma aplicação e utilidade.
6º
princípio - Motivação:
os adultos são mais motivados a aprender se essa motivação for
interna, ou seja se corresponder a necessidades
individuas, se favorecer a autoestima,
a qualidade de vida e o desenvolvimento pessoal, se for factor de
inovação, ou se o
conteúdo a ser aprendido for de aplicação imediata.
A
andragogia, enquanto modelo da educação de adultos, centra-se mais
no processo de aprendizagem do que nos conteúdos a aprender e
caracteriza-se pela horizontalidade e pela participação.
Considera-se
horizontalidade
como uma relação “entre pares”, que partilham atitudes,
responsabilidades e compromissos, no sentido de alcançarem
objetivos individuais e resultados comuns.
A
participação
deve ser entendida como a acção de tomar decisões em conjunto,
ou fazer parte com outros, na execução de determinada tarefa.
A
participação é o acto de partilhar algo, “dar e receber”,
envolver-se num projeto ou causa comum e investir nela enquanto sua
também. Tal capacidade é facilitadora, enquanto factor de
motivação para a execução da tarefa, aumentando o nível
geral de satisfação da equipa.
O
professor é considerado um
facilitador, e como tal, sua
relação com os aprendentes é horizontal, tendo como principais
características a flexibilidade, o diálogo, o respeito, a
colaboração e a confiança.
Os
alunos podem
participar nas diversas fases
do processo de ensino-aprendizagem, tais como:
- Diagnóstico das necessidades educativas;
- Elaboração do plano de formação e estabelecimento de objetivos a partir do diagnóstico;
- Formas de avaliação.
A
metodologia
é voltada para a participação activa dos aprendentes, e a
organização curricular é flexível e adaptável, visando atender
às especificidades de cada adulto.
O
clima propício
para a aprendizagem, segundo o modelo andragógico, tem como
características o conforto, a informalidade e o respeito, garantindo
assim, que o aprendente se sente seguro e confiante.
Cada vez existem mais
pessoas idosas no mundo e é importante que haja oportunidades para
continuarem a aprender. A vontade de fazer novas aprendizagens deve
ser estimulada, apoiada e sustentada com recurso a práticas
facilitadoras e adequadas à aprendizagem na idade adulta.
Educação para todos também
deve significar: dar às pessoas, independentemente da idade, a
oportunidade de desenvolver o seu potencial, colectiva ou
individualmente, fortalecendo a capacidade de lidar com as
transformações globais que ocorrem na economia, na cultura, na
tecnologia e na sociedade como um todo.
Que
bom seria podermos dar mais
vida aos anos e dar mais anos à vida.
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